Solar de Pouve
Tinha Leonor cinquenta anos, quando um fidalgo, com préstito de muitos lacaios, parou diante do solar de Pouve e perguntou a outro cavaleiro:
– Quem mora aqui?
– É a viúva de João Esteves Cogominho.
– Ah! – disse o almirante D. João de Azevedo. – A mulher querida daquele pobre Rui?!
– A mesma criatura.
– Se a víssemos…
– Pede-se-lhe licença para ser vista de dous parentes. Não será nossa prima? – perguntou o outro viajante.
– Deve ser. Vou falar-lhe em Rui Gomes.
Apearam. Foi aviso à fidalga. Saiu um frade a tomar conta do recado.
– Diga à Sr.ª D. Leonor Correia que a procura o almirante, seu primo, por Lacerdas – disse D. João.
Recebidos e conduzidos a uma sala, de cujo tecto apainelado pendiam sacos de irrequietos aranhões, como espantados de verem gente e luz, também os hóspedes se espantaram.
CASTELO BRANCO, Camilo - O Senhor do Paço de Ninães. Lisboa : Parceria A. M. Pereira, 1966. p. 244.