Nota prévia: Os textos da Casa das Quintans e todos os relativos aos quatro escritores a ela associados não são redigidos de acordo com o estabelecido no Acordo Ortográfico.
"João Pina de Morais (n. perto de Lamego, 6/1/1889 – 29/1/1953), muito ligado ao grupo da Renascença Portuguesa e aos partidários da intervenção na Guerra, consagrou-se nas letras com o mais popular livro de memórias bélicas, Ao Parapeito, 1919, que em 1924 conhecia uma 3ª edição e foi traduzido em francês, primeiro parcialmente em revista, depois em volume (Au créneau, 1930).
Focá-lo-emos, sob este aspecto, entre outros memorialistas do tempo, confirmado este êxito com outro volume de continuação, O Soldado Saudade, 1921, que a Renascença Portuguesa editou. Pina de Morais integra-se sem grande originalidade na escola saudosista com a prosa lírica de Ânfora Partida, 1917, reed. 1923, num estilo fluente e imaginoso como o de Leonardo Coimbra. A Paixão do Maestro, 1922, parecia indigitar uma evolução sentimental-esteticista, mas a sua fidelidade à causa republicana democrática acarretou-lhe um longo e combativo exílio por Espanha, Brasil e França, cujas Memórias aguardam publicidade. Nas duas colectâneas de contos, Sangue Plebeu, 1942, e Vidas e Sombras, 1949, é que se assinala o seu definitivo pendor naturalista regional. A acção decorre quase sempre na Beira Douro, numa região rural a norte de Lamego. Há uma excessiva demora nas descrições, entradas na matéria e em episódios digressivos.
Paira em geral uma trágica violência: crimes de amor e ciúme ou por partilha de água, situações de miséria extrema, hediondez física, sacrifício de mães pobres até à morte por exaustão, dramas de loucura. Destacam-se com particular vivacidade casos de vida militar, que complementam os livros de estreia: um caso de cobardia neurótica nas trincheiras, momentos em que a tropa enfrenta uma multidão enfurecida, nomeadamente um bando de fome, em Lamego, 1915, protestando contra determinada cláusula de um tratado comercial que seria ruinoso para a região. Certo conto, ainda mais interessante, A Audiência do Diabo, no primeiro volume, seria classificável como expressionista: trata-se de uma espécie de sabat demoníaco, visionado por uma das personagens populares que surgem ciclicamente nestes livros".
LOPES, Óscar - História da Literatura Portuguesa, 2ºvolume, Lisboa, Cor, 1973, pp.594-595 e 616 (História Ilustrada das Grandes Literaturas, VIII).